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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Reminiscência de vida.


Ele se dirigiu até o quarto em passos lentos olhou ao redor e viu apenas aquela velha cadeira feita por seu avô, e viu em cima da penteadeira aquele encanecido baú, que não dava importância há anos.
Aquele velho baú se tornou um grande deposito de coisas e emaranhados, e percebeu que naquele velho baú, antes das coisas que estava lá acumular tinha um agüentar. Mas por medo ou vaidade se recusava terminantemente em abri-lo.
Sofrendo pela sua precariedade de vontade e por falta de amor a ele e aquilo que depositará lá, estremeceu em suas angustias e remoeu o seu passado.
Ficou hirto, em suas entranhas sentiu aquele embuste, um aborrecer que o fez ficar horas contemplativo.
Criou certa coragem e pegou aquela caixa, que não apenas acumulara coisas, mas também uma camada de pó.
A pequena caixa tinha seus 25 cm de altura por 50 cm de largura, seu madeiramento era de sucupira, talhado com suas iniciais. Ganhara no seu aniversario de nono ano, para ater ali suas memórias quando tornasse um grande homem.
Com adiantar-se da idade, e com a afobação da vida, ele apenas colocou as coisas que foram boas e tiveram um significado impar na sua história, pessoas que só teria visto apenas uma única vez, livros que teria lido mais de uma vez, recortes de jornais que trazia algo marcante naqueles anos passados, os amores conquistados e fotografias... As fotografias de família ele guardara todas justa posta, atada com um uma tira de cetim marrom, para diferenciar das fotografias do seu grande amor, essas foram atadas em barbantes, junto com as cartas que nunca tivera coragem de enviar. Um caderno onde escrevia suas memórias. O caderno era verde de aparência dura, a abertura era um desenho de um ipê amarelo, que existia na fazenda de seu avô, que ele mesmo tinha desenhado por observação, em letras cursivas bordadas de nanquim escrito: “Meus Pensamentos”. Já haviam vendido a fazenda e todos os sonhos que pensara embaixo daquela arvore.
Dentro daquele guardado, tinha uma mantilha, fora da sua bisavó, junto com o missal escrito em latim. Uma fita cassete de Dalva de Oliveira, que pegara de sua mãe, porque gostava do canto entristecido, da nostálgica voz, e das letras sofridas de um amor nunca existente e bandido.
O convite de casamento de uma amiga, que não compareceu, por motivos besta, um convite simples, branco, amarelado atualmente pelo tempo de guardado, com letras em dourado.
A vela da Primeira Eucaristia, ainda com o decalque do Cálice Sagrado. O terço que aprendera a manusear nas contas suas orações.
Depois uns recortes sem sentido, algumas contas pagas, recibos canetas, contas de água, luz e telefone. Uma folhinha do sagrado coração de Jesus e mais algumas mensagens.
Seus olhos começaram a lacrimejar, rapidamente lembrava-se de tudo aquilo, com uma sensibilidade incrível, como se aquele velho baú fosse a Caixa de Pandora, libertando todos os segredos entre o bem e o mal. Sobrando apenas a esperança.
Passou a mão sobre a caixa... Sentiu a repugnância da poeira entre os dedos e a palma da mão. Abriu lentamente e foi retirando tudo que lá estava, e cada guardado tirado passava uma imagem de quando e como aquilo foi parar lá. Foram tantas coisas depuradas que dos olhos marejados, vertia se agora uma inundação de água, que não podia mais se conter em soluços e lagrimar e murmuras. Sobrando apenas, as fotografias e as cartas de amor que nuca enviara para o seu destinatário amarradas a um barbante.
Quando deu se por si, as lagrimas tinha tomado conta a um grande sorriso, uma caixa vazia e uma inundação de júbilos.
Porque a única coisa que sobrara de tantos guardados era a sua reminiscência de vida.

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