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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

E o silencio foi quebrado por estilhaços de vidro de uma compoteira:

Depois de todo cuidado para fazer a faxina na casa, no ultimo momento eis que na tirada do pó, o vidro despenca e acaba quebrando uma compoteira que havia sido dos meus antepassados. Dado para minha mãe como um presente de família, que há séculos cultivavam o bom humor dos doces feitos em tachos de cobre na fazenda, podia se ver às vezes frutas cristalizadas ou então doces em caldas!
Em volta deste pote à família se reunia para contar os causos mais interessantes da infância e o quanto apanhava ou faziam suas estripulias, como foram lindos casamentos que ele ornamentava, ou então os batizados. Eram historias que indiretamente faziam parte da minha historia!
A peça em questão ostentava seu imperialismo italiano, em tom amarelado com alguns respingos de cores que ia do vermelho ao marrom (uma peça que lembrava urano), mas que na realidade tinha todo um rococó e uma borda que era pura prataria.
Lembro-me que quando esta peça foi dada a minha mãe houve todo um ritual de discussão e brigas, pois a família era grande (e ainda continua) e por ter sido uma peça da minha bisavó. E por isso guardar um valor absurdamente inestimável de quando eram crianças e por ter sido do casamento da minha avó.
Mas como tudo era uma democracia então a peça por merecimento ficaria para o primogênito que era de fato a minha mãe!
Então quando esta peça sai de seu estado de compoteira para grandes e pequenos estilhaços, em questão de segundos passa toda uma novela da minha vida! Não me desesperei, mas sim, fiquei totalmente desconsolado por lembrar de cada fato, cada historia e cada momento dos bons e ruins que pertenceram a esta família. De imediato me pus a pensar que naquele momento a família se acabara que as historias assim como o pote tinha quebrado em milhões de cacos tudo perdido. Nem mais um registro.
Pensando como um ser humano que vive diretamente de bons momentos, me senti tão fragilizado e concentrei nas perdas da minha vida, nas perdas que sempre temos e que esta louça de família era um arauto para todos onde podíamos ver tocar e reviver a sua historia. Mas desta vez a historia e as lembranças se perderam em um monte de cacos e enrolado em um jornal velho que iria para o lixo!
Não que aquele pote me traria de volta todos que haviam participado da historia e dos causos, mas em todos os momentos aquela peça era e sempre foi um talismã que ficara ornamentando para alguns, mas para mim um grande objeto de poder!
Era como se tocasse e as minhas forças revigorava, meu tempo de idade rejuvenescesse, e eu estaria pronto para aceitar qualquer outra perda que fizeram parte desta peça! Foram tantas energias ali depositadas que nunca pensei na perda da peça, poderia ser qualquer um outro ser ou outro momento de transtorno, mas na verdade é que nunca estive preparado para perdas e muito menos pela compoteira.
E agora não mais eu que depositava todas as energias ali naquele singelo vidro, acabo de perder e vi que todas as historias toda a família e tudo mais que podia se ver e acontecer não estava embasado na relíquia de uma compoteira, que até ela poderia ter seu tempo final assim como qualquer outra pessoa como qualquer pensamento ou felicidade, tristeza e outras coisas que eu agregara ali! Nesta hora enxugo as lagrimas enrolo os cacos quebrados no jornal e vejo que também perdi e se tentasse colar seria pior, pois a energia que ali estava não seria mais a mesma, se transformaria em outra compoteira remendada e que passaria ter outra energia e às vezes nem boa nem ruim apenas mais uma energia para acumular o pó!